sábado, 1 de junho de 2019

Escritos de Yara - ATAHUALPA - O INCA

ATAHUALPA - O INCA


Yara de Nerea Lima, abril/2013

Esperei Godot e ele não me deu a mínima. Com seu moço não quero mais papo. Vivendo e aprendendo tesoro!!! Como os anos não passam impunemente, malecha que estou no setor da saúde guardei na gaveta, o sonho de conhecer Machu Picchu, Cuzco, Cajamarca, Tiahuanaco e o sítio arqueológico de Sipán / os mochicas do norte. Imensa pena!!!!

Pra não ter perda total fico com o resumo da extraordinária ópera peruana. Fundada pelo espanhol Francisco Pizarro, em 1535 – que adenominou “A Cidade dos Reis” – Lima é surpreendente. Apresenta-nos um festival de enormes árvores seculares e flores em toda parte. Bastante segura– há policiamento ostensivo. À noite, a Força faz suas rondas – e, acreditem limpa.
O trânsito, pé no saco, como em todas as cidades grandes. Na “Pérola do Pacífico”, os táxis não usam taxímetro. Temos que contar com a honestidadedo motorista.
Na sua graciosa contemporaneidade – vivem aqui 9 milhões e 600 mil pessoas. No país, 28 milhões – iguala-se a outras tantas. Por isso mesmo, não me interesso pela Lima moderna. Vim pra vivenciar a História, o legado das várias culturas nativas e o legado espanhol.
A glória peruana está eternizada. Gracias vizinhos, por respeitarem suas tradições, seu passado pleno de estupendos feitos, inclusive pro nosso fascínio.

No 1o breakfast matinal – como brinca Feliciano – na mesa ao lado, pasmem, de corpo presente, Atahualpa – o imperador. Alto, composto com capricho por mamá y papá. Cabelo e olhos negros. Nariz e boca, tais quais se pode admirar nos relevos e pinturas que retratam o Filho do Sol.
Pra maiores emoções vesti-o à moda real andina: saiote, corpete e manto de vicunha bordados com fios de ouro. Peitoral, coroa, narigueira, pulseiras, anéis, brincos e sandálias também de puro ouro. Adornei sua cabeça com penacho nas mais estonteantes plumas coloridas. Quando levantou pra retirar-se firmei, na sua mão direita, o báculo / cetro, de prata maciça. Que figura cariño!!!!
Por 3 vezes pude apreciar o Inca. Numa manhã, quente e ensolarada como todas, ao me cumprimentar sorriu um sorriso triste. Engasguei-me com meu chá de coca. Pressenti que Pizarro, “o Carrasco do Sol” – vide a obra do dramaturgo inglês Peter Shaffer, também levada ao cinema – já com seus galeões abarrotados de ouro e prata havia sentenciado, em Cajamarca, sua execução com o garrote. Pois foi o que aconteceu. O soberano foi despachado desta pra não se sabe aonde, aos 31 anos de idade. Esperei vê-lo no dia seguinte, mas ele nunca mais apareceu.

No Paraná, Oraci Gemba dirigiu essa peça tendo no papel título, Emílio Pitta. João Luiz Fiani fez o Inca. A imperatriz, Neiva Camargo.

Relatam os cronistas, que os governantes andinos foram crudelíssimos. Atahualpa, mesmo encarcerado pelo predador da predadora Coroa espanhola, disputando o trono com seu irmão Huáscar, que reinava em Cuzco, ordenou aos seus homens que a cabeça do parente fosse decepada.
A ganância fez com que os saqueadores do Novo Mundo, guerreassem entre si e dizimassem os povos nativos. Povos que há 10 mil anos a.C., alicerçaram sociedades avançadas em artes, arquitetura, engenharia, organização social, ciências, tecnologias e higiene corporal.
Relatos entregam que os invasores fediam como porcos em decomposição. Verdade seja dita: Bartolomeu de Las Casas, padre dominicano, testemunhando a carnificina obrada por seus patrícios, denunciou-os à sua Ordem. Depois de muito conversê, medidas legais foram tomadas. Não deram basta ao latrocínio, mas refrescaram um pouco o inferno que os espanhóis trouxeram às terras do além-mar.

Estudiosos, considerando imagens encontradas, pensam que esses povos fizeram escola com extraterrestres. As possibilidades são gigantescastesoro!!!!

Num dos cassinos cinematográficos de Miraflores – abertos 24 horas –reencontrei Cleópatra. Volúvel como todos os geminianos que se prezam, agora apaixonada pelos povos dos Andes, não dei muita bola pra egípcia. Desta feita dei preferência às maquininhas, que se ilustram com temas do império que se estendeu do Equador à Terra do Fogo.
Com os pezinhos feitos leques andaluzes dei minha modesta contribuição, com vistas ao resgate do ex-plus ultra poderoso semideus, assim como procederam seus súditos. O espanhol enganador – como fazem os mentirosos – abocanhou o ouro e não cumpriu o combinado, ou seja, libertar o Inca.
Elegantes velhinhas limeñas, perfumadas como la flor de la canela, frequentam em peso, nas tardes, a seção das tragamonedas.

Em Lima, não cai uma única gota de chuva – jamais!!!!
As abundantes águas que dão vida à cidade são fluviais. Da cordilheira – que se eleva a 7 mil metros de altura e começa a 45km da capital – descem 3 rios. Comanda esse departamento, o velho e bom Rímac. No céu, em delicado azul bebê, desfilam poucas e transparentes nuvens. À noite, a lua muçulmana e um tapete de estrelas bordado pelas virgens sacerdotisas da deusa Terra, Pachamama.
Nestes dias de outono, a temperatura oscila entre 20 e 28 graus. O paraíso!!!!

No sábado à tardinha na TV Perú, com plateia, a Orquestra Sinfônica da Rádio Filarmonía tocou a Sinfonia no8 em sol maior, Op. 88, de Antonin Dvorak. Soberba cariño!!!!
As TVs abertas compensam a programação tão ao gosto do “animal de mil cabeças” – como Shakespeare, pela fala de Coriolano, chamava ao povão –mostrando muita música e documentários. Esplendidos, os que ensinam sobre o povo moche de Sipán e sobre o derradeiro império dos naturais da terra.
A DP / de película valoriza, ainda, as estrelas mexicanas maiores. Filmes com o cantor/ator Pedro Infante, homenageado nos 50 e poucos anos de sua morte. A cena de Infante com seu cavalo bailarino, deliciosa. Também, filmes com a argentina Libertad Lamarque e a espanhola Sarita Montiel. Extasiada vi a magnífica Maria Felix, em “Doña Diabla”.
Recuerdos das tardes de domingo em Antonina. Pelmex apresenta.... Como a plateia, lotada, já sabia o momento exato do condor levantar voo, gritava numa só voz: xôôôôôô urubu!!!! Demais!!!!

No hotel, mais que muito ótimo, ao lado da piscina, entre um cigarro e outro, experimento da altíssima gastronomia peruana. O forte: frutos do mar, galinha, porco, cordeiro, batata, milho, cebola, tomate, cogumelos, abacate, tudo acompanhado com ají – chili picante. Os doces, escandalosos!!!!
Bebidas: Pisco Sour / “Perú Flecha” – aguardente de uva. Preparado na sua terra natal é dos deuses. O calor pede uma cerveja gelada. Saborosa, aCusqueña cumpre seu papel. Cruzes cariño, não é que estou ficando cervejeira????
Chicha: refresco milenar preparado com milho amarelo, branco ou roxo. Achicha morada é feita com o roxo e servida gelada. Gosto de fruta suavemente cítrica. Pra muitos de nós é bebida inédita.

A música, contagiante. Chabuca Granda, estrela máxima. Poeta, dramaturga, atriz, compositora e cantora, nos enfeitiça com “Fina Estampa” e “La Flor de la Canela”, entre outras.
As gentes – de todos os níveis – conquistam pela gentileza, pelo sorriso fácil e aberto. Não se vê pessoas sentadas no chão, ou, encostadas na parede pedindo esmola. Existem pobres, sim, mas os que se vê estão vendendo coisas, ou seja, trabalhando.

AS VISITAS

Castelo / Fortaleza Real Felipe: filho de Carlos V e princesa portuguesa, Felipe II foi o mais rico e poderoso rei de seu tempo, até que Elizabeth I da Inglaterra reduziu a pó de bosta, nas águas do Atlântico, sua invencível armada. O monarca carola equivocou-se quando achou que o Deus dos católicos era mais isso e aquilo, que o Deus dos protestantes / anglicanos. O Castelo, um desbunde!!!! Armas espanholas, esculturas dos heróis da pátria e de incas, com suas lanças, punhais, fundas e vestes espetaculares. Destaque pras imagens de Tupac Amaru II / 1572 e de José Olaya, figuras imensas nas constantes e sangrentas lutas pela liberdade.

Os peruanos viveram 3 guerras. Conquistaram a independência em 1821. A proposito de fronteiras, com o Chile de 1879 a 1883. Dizem que foi devastadora pela malignidade dos vizinhos. Em 1941, com o Equador.
Numa das alas da Fortaleza – onde estocavam toneladas de ouro e prata – no meio da preleção da guia, cadete do exército, aos gritos salta o pirata.

A bordo de rico humor, encharcado de rum caribenho, o capitão e seu imediato seduzem os visitantes com suas estórias. No final da encenação vendem, com sucesso, tapa-olho por 2 soles. Ah sim!!!! A moeda nacional é o Nuevo Sol. O astro rei continua sendo reverenciado.

Ali, no distrito de Callao está o Porto. Os galeões, com as riquezas incas seguiam direto pra Cádiz. Isso, se os piratas da perna de pau, do olho de vidro e da cara de mau – da iniciativa privada. Os corsários agiam a soldo dos reis inimigos – não lograssem assaltar os assaltantes, matando-os e afundando seus navios.

La señora muerte observa muito de perto, os que estão nestas bandas. Como o Peru reside no Círculo / Anel de Fogo do tenebroso Pacífico – Placa de Nazca – de tempos em tempos ocorrem erupções vulcânicas, terremotos e tsunamis. O tremor de 1746, seguido de ondas armadas com fúria por Poseidon, provocou o desaparecimento de grande parte de Lima e entorno. A Fortaleza foi reconstruída no vice-reinado de José Manso Velasco / 1747 a 1776.

O Centro Histórico: luxo dos luxos!!!! Na Plaza Mayor, visita-se oPalácio do Arcebispo onde instalaram o Museu de Arte Sacra. O edifício é inacreditável!!! Lima teve o primeiro arcebispado das Américas, no ano de 1546. Das maravilhas expostas destaco: a estátua de Nossa Senhora da Soledad / século 17. O conjunto de esculturas em madeira e cera de abelhas,“o nascimento de Jesus”. Na capela, ouro em pó recobre o altar. Impressiona oquadro que nos dá a conhecer o cardeal Melchor de Linãn y Cisneros, confessor de Isabel de Castela, comandante em chefe da Inquisição. Jovem e belo tem pose real. Seus gélidos olhos negros nos ameaçam com torturas sem- fim.

Catedral de São João Evangelista / 1672 a 1748: os ossos de Pizarro ali jazem, com solenidade. Protetor dos nativos, Las Casas não é sequer mencionado na falação do moço inca, guia fornecido pela igreja. Aqui também gostam de louvar o bandido. Aqui também, políticos corruptos são diariamente denunciados pela imprensa.
Na Catedral o coro, os púlpitos, os confessionários, as capelas laterais, de cedro vindo da Nicarágua, acachapantes em seus relevos.

Plaza Mayor, entre os canteiros decorados com flores amarelas e alaranjadas, uma fonte / 1610. O Anjo da Fama toca sua trombeta no alto da coluna. Nas bordas do repuxo, os espanhóis – cheios de gás – quiseram declarar seu poderio na América do Sul. Esculpiram leões em cima de dragões fêmeas. Esqueceram que o leão era / é o símbolo da arque inimiga Inglaterra. Ilustraram o soberano britânico, altivo, introduzindo seu apêndice no fiofó do rei espanhol, cujo símbolo era o dragão. Percebida a bruta mancada, a fonte deixou de enfeitar a Praça por muitos e muitos anos.

Palácio do governo: foi residência do curaca / chefe inca, Taulichusco. Pizarro passou fogo no dono da casa e dela tomou posse. O dia e a hora do invasor chegou, quando um coleguinha enfiou nele sua espada.
Com seus uniformes em vermelho e branco – cores da bandeira – na troca daguarda ao meio dia, a Banda executou com pomposa coreografia “Fortuna Imperatrix Mundi”/ Carmina Burana, de Carl Orff.

Igreja e Convento de Santo Domingo / 1535: os santos locais, Rosa de Lima – a 1a das Américas e o padre Martín de Porres estão enterrados no Convento. Seus crânios, exibidos na igreja.
Átrios com jardins, varandas, assombrosos tetos esculpidos, afrescos e azulejos de Sevilha.

Praça San Martín: protagoniza a estátua de José o libertador da Argentina, Chile e Peru. Na Praça do Congresso, homenagem a Simón Bolívar libertador da Nova Granada, Venezuela, Colômbia e Equador. Junto com o general Sucre e o argentino, libertador do Peru. Bolívar pertencia à aristocracia venezuelana e era oficial do exército. Perdidamente conquistado pela formosa peruana, Manuela Sanz, com ela casou.
Livres do domínio estrangeiro, Bolívar planejava juntar esses países na Grande Colômbia. Sua pretensão era reinar à moda europeia. San Martín –verdadeiramente republicano – não topou a ideia, rompendo relações com o muito esperto.
Hugo Chávez, surfando nas ondas de seu maior inspirador – povas et povos tenhamos claro, a ignorância é a mãe e o pai de todos os vícios – há anos, já se postava como monarca em Caracas. Se o enganador não tivesse batido com as 10 teria, em algum momento, se aventurado a reinar também na vizinhança???? O “animal de mil cabeças” manteve a coroa, na moleira dopodre de Maduro. O espertalhão, além de desprezar abertamente as leis vigentes, com a maior cara de cimento armado alardeia que ouve mensagens do bolivariano rei defunto, no canto dos pássaros. Hay que joderse tesoro!!!!

Acorda América Latina e trata de estudar História!!!! Que não sejamos leões sobre ninguém, mas muito, muito menos, dragões fêmeas sob estupradores.

Museu da Inquisição: no subsolo da casa, as masmorras. Nas salas, esculturas denunciam as sessões de julgamento e os vários tipos de tortura, com seus respectivos instrumentos. Pinturas descrevem os Autos de Fé –execuções na fogueira, ou, com o garrote, na Plaza Mayor. Condenados, vestindo bata de palhaço demoníaco, carrascos, acusadores, gentes do governo chegavam em procissão. Os padres, no comando, levavam crucifixos e estandartes com santos. A barbárie era assistida por toda a cidade, adrede mente convocada pra tal. Aquele que ousasse não comparecer passava de público a protagonista / 1570 a 1813. Tudo começou com o papa Lucio III e os reis católicos, Isabel de Castela e seu marido Fernando de Aragão.
Com o pretexto de combater o que chamavam de heresias, os cretinos saquearam judeus, muçulmanos, ciganos, adversários da Coroa, da Igreja e a quem mais lhes desse en la gana.

Casa Torre Tagle: mandada construir em 1738 pelo marquês do mesmo nome é considerada um das mais luxuosas da capital. A fachada ostenta balcões fechados, em cedro, no estilo mudéjar / muçulmano e cristão belissimamente esculpidos.

Igreja de São Pedro / 1569: o altar central, em cedro banhado a ouro, demanda aplausos de joelhos. Nos altares laterais, emocionam pela beleza a escultura de Jesus na via crucis, caído no chão. A estátua de Nossa Senhora de La O / século 17 e a imagem do menino Jesus de Huanca, com cabelinho, carinha e traje nativos. Fofíssimo tesoro!!!!

Igreja de La Merced / 1541: formidável fachada criada em granito cinza e rosa.

Na pracinha, estátua do presidente Ramón Castilla que aboliu a escravidão negra / 1858. Vendidos aos brancos pelos chefes das suas aldeias, foram trazidos do Atlântico ao Pacífico em viagens de tormentos miles.
Os africanos, com suas culturas, temperaram a vida peruana. Na música deram saboroso tom e ginga ao valseado. O criollo tem graça e sensualidade.

Casa de Aliaga / 1535: o marquês Gerónimo de Aliaga, amigo de Pizarro, erigiu seu palácio sobre um templo inca. Os descendentes do nobre de Segóvia ainda hoje vivem na casa. A matriarca, doña Olga, linda aos 102 anos, comanda a família e seus negócios. A casa tem mais de 80 dependências.
As obras de arte tornam a visita obrigatória.

Museu do Ouro: acervo do colecionador Miguel Mujica Gallo. Aponto somente as peças pré-hispânicas mais chamativas: instrumentos musicais, múmias paramentadas, soberbos tapetes, cetros, liteiras reais, cerâmicas de vários períodos e objetos de madrepérola.

No Mercado Índio, de um tudo. O éden pra quem delira por compras. Parei pra escutar o rapaz inca que toca flauta de Pã, com 22 tubos de bambu em tamanhos decrescentes. Mestre!!!!

Museu Larco Herrera: imperdível!!! Desde 1926, numa mansão de fazenda edificada no século 18 sobre pirâmide inca, o arqueólogo Rafael Larco Hoyce expõe 4 mil anos das muitas culturas nativas. Ponchos com aplicações de placas de ouro e de prata, crânios trepanados, joias com jade, âmbar, esmeraldas e nácar. Esplêndidas narigueiras, cerâmicas, muitas com cenas cerimoniais de sacrifício. Pinturas espanholas e desbundantes conchas coloridas vindas do Equador (não são encontradas ostras no Peru).
Na sala da arte pré-colombiana erótica, inúmeras peças com o mesmo de sempre e de todos os lugares do planeta. Quem ensinou pra quem os fazeres da paixão???? As cerâmicas mostram que os andinos eram profundos conhecedores do assunto.

Santuário de Pachacámac – o Senhor dos Tremores: a 30km de Lima, passando por atraente praias e dunas, chega-se a este antiquíssimo centro religioso. Os ychsmas / 800 d. C., ocuparam as terras desérticas. Sob a dominação do Inca / 1470 a 1533, o santuário, devidamente irrigado, sediou o oráculo do temido deus. Pachacámac era representado por um totem de madeira, na frente homem, atrás mulher.
Os consulentes de todo o império, em peregrinações, iam saber o que lhes reservava o futuro. Do Templo do Sol, na colina, descortina-se o oceano vestido de azul e o vale do rio Lurín, em estonteante verde.
Ao Palácio Mamacona / Acllawasi levavam as meninas mais bonitas da cidade. Aprendiam a fiar em teares de cintura e a preparar a chicha, distribuída aos peregrinos nas cerimônias. O curaca escolhia umas e outras pro seu harém. Também e principalmente, pro serralho do imperador em Cuzco.
A propósito do ouro que resgataria Atahualpa, Hernando, o irmão de Pizarro invadiu o santuário. Com seus cavalos e suas armas de fogo, desconhecidas pelo nativos, saquearam geral assassinando a maioria das gentes.
Na entrada do sítio arqueológico – imenso, com templos, palácios, avenidas, etc. – simpáticas famílias de lhamas circulam entre os visitantes. No museu, impactantes são as mensagens escritas, em código, que eram enviadas a Cuzco por jovens corredores. Assim eram as cartas incas: cordões de fios atados numa cinta, de cores e tamanhos diversos, com nós colocados em diferentes alturas.
Pelas estradas – cobriam todo o império – os rapazes maratonistas, ao comando do curaca abasteciam, com frutos do mar, a mesa da corte na capital, sediada a 3 mil e 500 metros na cordilheira.

As praias da cidade deitam ao pé de penhascos. A areia, amarela e dura. O Pacífico bate forte. Nesse trecho, as águas são turvas. Hoje, o mar e arredores cobrem-se com uma névoa densa, como a que nos arrepia nos filmes ingleses.

No bairro boêmio de Barranco, fantásticas casas coloniais e antigas foram e estão sendo restauradas. Pode-se conhecer as muitas que são utilizadas, pra todo tipo de comércio. Em Chorrillos, antes aldeia de pescadores, favelas encarapitam-se nos morros de barro.
No centro, frenético, da capital / Miraflores, não acreditando no que estava vendo deparei-me com a Huaca / lugar sagrado Pucllana. Pirâmide erigida entre os 300 e 800 anos d. C., com tijolos fatiados fininhos, na vertical.
No meio de San Isidro, outro bairro sacudido, ergue-se a Huaca Huallamarcatambém em adobe / 600 d.C.. O alto edifício foi decorado com bolas de argila, tal qual arrebites. Ambas do povo lima. Retumbantes cariño!!!!
Com mudas trazidas da Espanha cresceu El Olivar. San Isidro soma às suas atrações esse parque de oliveiras, onde se admira os contornos teatrais das árvores. Ninguém mexe nas azeitonas que pendem dos galhos.

Como ficamos amigos de infância convidei meu motorista – guia, Duilio / Willie, descendente do povo mochica – competente em seus ofícios, hiper gentil, muito divertido e, na ocasião, elegantaço – pra navegarmos no oceano de delícias do restaurante Astrid & Gastón. Indicação da minha prima, a sapeca Fernanda, que por sua vez é chef de cuisine.

Também ao lado de Willie, o Senhor de Sipán, no Junius / Miraflores aprofundei prazeres com a comida típica, com as saborosas músicas e danças em trajes regionais. Na abertura do espetáculo, como se vivo fosse, Atahualpa faz sua entrada triunfal acompanhado de suas mulheres. Vem coberto de ouro da cabeça aos pés. Recita louvores aos deuses e lhes oferece chicha e perfumoso incenso.
Momento eletrizante: a dança das tesouras. Bailarinos acrobatas fazem coisas impossíveis. As tesouras são usadas como instrumentos de percussão, acompanhadas por violino e harpa. A plateia urra!!!!
O som de atabaque tirado do cajón peruano estremece os alicerces.

Museu Nacional de Arqueologia, Antropologia e História: plantado numa mansão de fazenda, onde moraram San Martín e Bolívar. Babantes as peças fiadas em algodão, alpaca e vicunha com desenhos espetaculares em cores brilhantes, que resistem ao tempo.
Da ocupação espanhola, muita prata, armas, trajes, pinturas, cilícios e chicotinhos feitos de ferro. Os católicos, à época, merdavam no prato e pra limpar suas sujeiras diante de Deus, dá-lhe autoflagelação!!!! Também os europeus acreditavam que o sangue aplacava a ira da divindade.
Sempre interessante, o ser humano. Preferiam ficar com o corpo em tiras, a não exagerar no pisotear a jaca.

Na mansão, átrio com jardim e varandas decoradas com azulejo sevilhano.

Jamais esquecerei as praças de Lima. Nunca vi tantas e tão lindas numa só cidade.

Triste hora da partida tesoro!!!! No aeroporto Jorge Chávez, um jardim recebe os fumantes, que ali podem comer, beber, papear e dar suas boas pitadas.

Doze dias não foram suficientes, pra que pudesse apreciar tudo o que nos oferece esta terra esplendorosa.

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