domingo, 26 de junho de 2011

Dama do teatro paranaense

Yara Sarmento em casa: mente vigorosa e mais tempo para prestar atenção nos outros

Ela pode estar distante dos palcos, mas continua encenando. Yara Sarmento recebeu a reportagem da Gazeta do Povo em sua casa e foi logo armando o cenário: “Vamos fazer a foto naquele espelho, que foi da minha vó”, sugere.

Esse olho bom para a direção de arte, ela tem voltado para dentro de si mesma nos últimos anos. Após um período de enfermidade, a atriz nascida em Antonina aprendeu, nas suas palavras, a prestar atenção nos outros. “Me faltava espírito de convivência harmoniosa. Mas isso não quer dizer que, se for preciso, eu não saiba dar bronca.”


Aos 71 anos, recém-completados, Yara está em seu primeiro ano de aposentadoria compulsória do cargo de assessora artística do Centro Cultural Teatro Guaíra, mas não sabe ficar parada. No ano 2000, juntou-se a Odelair Rodrigues, Gilda Vogue, Gilda Elisa e Claudete Pereira Jorge para montar uma peça com trechos escritos pelas cinco damas do teatro paranaense. O amigo Enéas Lour se ofereceu para arrematar a “carpintaria” do texto. “Não tivemos dinheiro para levar adiante”, lamenta.
Com Joel de Oliveira em Curitiba, em 1963, no programa Teatro de Equipe (Arquivo pessoal)

Mas o que ela escreveu, “Machina Fatalis”, foi lançado em abril junto com contos, crônicas, roteiros para vídeo ou curta-metragem, roteiros de viagem, entrevistas e depoimentos que ela juntou nos últimos anos, no livro As Marés.

As “viagens” poderiam ser definidas como “a eterna viagem ao Egito”, onde ela acredita que nem dez anos de permanência seriam suficientes para dar conta de ver tudo. Até hoje, foram quatro visitas, inspiradas pelo fascínio histórico e interesse pelos templos e pela mitologia. No livro, Yara relata um pouco disso.

A recente introspecção forçada – mas bem-vinda – deve ter fortalecido a memória. Yara cita nome e sobrenome de todos com quem atuou em cada etapa da vida profissional. Cada pessoa que a indicou para um papel ou cargo vai citada no livro.

Dos sete anos que passou entre São Paulo e Rio de Janeiro, nos anos 60, Yara destaca a novela Padre Tião, em que contracenou com Marília Pêra e Ítalo Rossi, entre outros. Fez um pouco de tudo, de apresentação de telejornal a show de vedetes, passando pelo corpo de jurados do quadro “Justiça dos Homens”, no Programa Sílvio Santos, produzido por Valêncio Xavier, e pelo trabalho de dublagem de filmes.

A dança, aliás, foi a primeira habilidade que desenvolveu, na Academia de Danças Espanholas. Entre os papeis para teatro, ela destaca A Casa de Bernarda Alba e Marat-Sade, com o Grupo Momento, criado por ela ao lado de Oraci Gemba, Angela Wogel, Lauro Hanke, entre outros.

Também fundou, ao lado de nomes, como o de Edson D’Avila, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado do Paraná, que presidiu de 1988 a 1991 – função muito lembrada pelos amigos e colegas que escreveram depoimentos publicados em As Marés.

Escritos

Entre os textos de Yara publicados no livro, é recorrente a alusão à religião de forma negativa, o que fazem supor uma postura mais carrancuda do que ela na realidade tem. “Assisti a dois documentários, O Universo e Como Nasceu Nosso Planeta, que me fizeram pensar que as coisas não eram bem como eu tinha aprendido.” Além dos questionamentos sobre a origem de tudo, Yara conta que o teatro a fez perceber que o ser humano é igual em todo o planeta – e ela gostaria de poder contribuir para adicionar um pouco mais de harmonia a ele. “Ou, pelo menos, de civilidade.”

Outro tema que a incomoda – e isso fica evidente no livro – é a condição da mulher. Engana-se, porém, quem entender essa expressão como uma crítica feminista. Yara não vê no casamento a vitimização da mulher, e sim uma mulher que “bate a cabeça” e só muito tempo depois para e reflete, percebendo que pode ser um pouco mais feliz.

No conto “Nós, em Maria Rosa”, ela fala um pouco sobre isso. “Essa é a história de muitas mulheres em todos os países.”

Seria a história dela também? “Eu sou homossexual”, conta ela, que incluiu uma crítica à forma como a sociedade lida com esse tema no livro.

Serviço:

As Marés. Edição do autor, 233 páginas, R$ 25. À venda nas Livrarias Curitiba.

Fonte: Caderno G da Gazeta do Povo, 19/06/2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Revista Curitiba 01 de Junho de 2011

Um papo descontraido com Yara Sarmento, atriz conhecida por ter dado o primeiro beijo na televisão paranaense.